domingo, 21 de fevereiro de 2016



AVATAR , A transcendência de uma imagem




Esta semana em meus atendimentos deparei-me com uma crença, no comportamento de uma cliente, que conheci bem no meu passado: A crença da invisibilidade!

 Talvez você já saiba ou não, mas já fui servidor público. Trabalhei por 10 anos nas forças armadas e esta crença começou quando iniciei a minha carreira militar. Passei no concurso, minha nota foi muito elevada, fui o quinto colocado da minha época na classificação final. Era advindo de anos de trabalho no comércio e me preparava para fazer vestibular para Farmácia.

 Era um jovem desempregado cuja poupança foi totalmente suprimida pelo plano econômico financeiro da época, o Plano Collor, que me descapitalizou e então, resolvi fazer este concurso público.

 Assim que passei, apresentei-me em uma escola militar onde a minha colocação era então mais alta ainda. Isto porque os outros 4 candidatos que estavam à minha frente, escolheram outras escolas. Na época, a filosofia do local onde me apresentei era de formar máquinas de guerra, soldados guerreiros, literalmente, e não administradores ou burocratas. Enfim, minha cabeça valia prêmio neste local e eu não sabia disto. 

Já nos primeiros dias, arrancaram meu coro, enfraqueceram minha vontade e levei "porrada para caramba", já que castigo físico, naquele tempo, era considerado meio de instrução. Para resolver meu problema imediato, repetia todos os dias pela manhã bem cedo ao fazer a barba: "eu sou invisível" , "eles não vão me ver por hoje". E este comportamento foi repetido tantas vezes que virou um hábito em minha rotina, todos os dias pela manhã.

 Baseado nas estatísticas de que éramos cerca de mais de 1100 alunos e eu teria que ficar mais 42 semanas para concluir o curso em imersão contínua, meus instintos de sobrevivência transformaram-me em um verdadeiro "moita"- aquele que se esconde sempre ou fica camuflado, invisível. Isto passou a funcionar já na segunda semana. "Magicamente", quando iniciou a segunda semana, meus instrutores simplesmente não me viram, não me enxergaram mais.

 Parecia um milagre o que acontecia. Minha vida mudou para melhor, se eu posso dizer que existia alguém melhor naquele momento, pois deixei de ser "o foco das atenções" e passei a ser "neutro" no ambiente. Sabe aquele cara que não "fede nem cheira", pois é, me tornei esse cara.

 Assim então, conseguia dormir razoavelmente 5 ou 6 horas por dia, o que era um luxo. Alimentava-me também um pouco melhor e até saí do quartel alguns dias, nos feriados, para voltar ao Rio de Janeiro para estar com minha família e amigos. Mas tudo isto com uma condição, ser "moita" e não "bater de frente" com o sistema. Este poderia tirar o meu descanso, a minha alimentação, a minha liberdade e até mesmo, a minha alma.

 Bom, encurtando esta história, fui descoberto de novo faltando duas semanas para a conclusão do curso. E isto ocorreu devido às minhas elevadas notas nas provas técnicas. Sofri alguma pressão nestes dias mas "já não dava para mais nada". Todos já estavam muito desgastados, alunos e instrutores contavam os dias para terminar o ano letivo.

 De cerca de mais de 1200 alunos que se apresentaram no primeiro dia naquela escola localizada na cidade de Três Corações, sul de Minas Gerais, menos de oitocentos terminaram o curso. E eu estava ali, meio que "invisível".

 E por que conto tudo isto para vocês?

 Porque, décadas depois, descobri que fui manipulado pelo "gatilho da invisibilidade" dentro da minha cabeça. Eu fazia o exercício de PNL: "mudança da história pessoal na linha do tempo", olhando para o meu futuro realizado e me via em uma sala de aula todo deformado. Minha imagem era como se fosse um borrão na minha mente. Percebi que neste meu futuro, eu usaria muita força ou nem conseguiria falar direito com as pessoas sobre o que sentia, pensava ou desejava.

 Meu condutor do treinamento, pediu então, para que eu checasse em minha linha do tempo, aonde tudo isso haveria de ter iniciado. Ao checar a origem da falta de recursos no futuro, minha mente me levou ao meu passado, exatamente no verão do ano de 1990, precisamente no alojamento da 3a. companhia, às 5h40', fazendo a barba e repetindo para a minha imagem no espelho do banheiro: "eu sou invisível".

 "Caramba", aquilo foi uma "porrada" na minha realidade! Quando descobrimos que somos manipulados por crenças, ocorre uma onda de "insights" reveladores automáticos que começam a fazer todo o sentido na sua consciência do presente.

 Ah tá, conclui então que por isto, que a partir daquele momento em diante, eu sempre me recusava a dar aulas, falar em público, expor as minhas opiniões, tomar partido A ou B , e aí vai por adiante,a lista era grande...

 Diante dos fatos, resolvi negociar entre as partes, mente inconsciente e consciente, uma nova versão para que aquele comportamento do passado, que foi necessário e fundamental naquela época, para a minha sobrevivência, não atrapalhasse os meus desejos, performance e realizações no futuro, ou este meu chamado estado desejado.

 Este exercício, durou cerca de uns trinta minutos e depois disso, chequei novamente as imagens do futuro e pude perceber com nitidez, a harmonia das cores, movimentos e detalhes do cenário. 

 Hoje, tenho ciência de que estou aqui e agora, compartilhando esta história toda com vocês porque consegui identificar um gatilho mental que me atrapalhava muito em minha capacidade de comunicação pessoal em grupo.

 Então fica a dica para que os senhores possam, em algum momento, abrir espaços em suas agendas para falar com o seu passado e com o seu futuro, promovendo a ressignificação das limitações e o alinhamento com os desejos. Principalmente se perceberem algum tipo de comportamento ou resistência que interfira em sua evolução afetiva, espiritual, financeira ou até mesmo em sua saúde.

 Excelente semana para todos!