domingo, 14 de agosto de 2011

A RAIVA DO FÍGADO





     O fígado é o maior órgão do corpo humano. Pesando cerca de 1,5 quilos, localiza-se do lado direito, no quadrante superior da cavidade abdominal, protegido pelas costelas. Juntamente com o baço e a medula óssea compõem um grupo de órgãos chamados de hematopoiéticos, responsáveis pela hematopoese, que é a formação e desenvolvimento das células sanguíneas.


     É uma verdadeira indústria química, executando mais de 500 funções no corpo humano e, pela sua alimentação sangüínea, através das artérias, transportam o sangue enriquecido pelos nutrientes e outros glóbulos, que graças ao coração, irão ser redistribuído em seguida por todo o corpo. Tornando-se assim, um órgão extremamente elaborado e polivalente, as atividades indiretas do fígado consistem na sintetização dos alimentos necessários à coagulação e à desintoxicação sangüínea. Na realidade um verdadeiro filtro.


     O bom senso é o fator primordial para o perfeito funcionamento do fígado. Ele sempre desempenhará bem suas funções na medida em que formos moderados e comedidos diante dos fatos que ocorrem à nossa volta. Os excessos no plano físico ocorrem sempre pelo uso demasiado de gorduras, álcool e drogas.  Essa atitude tem sua origem na falta de respeito a seus próprios limites. Este proceder leva aos já conhecidos complexos de superioridade e de inferioridade. Já no campo cognitivo mental, as manifestações deste órgão transitam desde a raiva, mágoas e frustrações à depressão, pois é o órgão que gera, distribui e controla o suprimento de energia do corpo, modulando a força vital do ser humano.


     Os problemas hepáticos também são sinais de que estamos com dificuldades de digerir alguma coisa em nossa vida. A principal emoção do fígado é a cólera. O fígado é a principal víscera produtora de energia agressiva. A agressividade é a nossa condição de conquista em determinadas circunstâncias. É a nossa capacidade de imposição na vida, necessária para mantermos nossa integridade e permanecermos em harmonia com nossa natureza íntima. Isso corresponde à firmeza de caráter e personalidade ao manter os pontos de vista e conquistar os espaços que pretendemos no meio em que vivemos.


     A manutenção da vida se dá por intermédio da destruição do alimento pelo processo da digestão. Analogicamente, essa manutenção também é conseguida com a destruição de todas as situações que possam pôr em risco nossa integridade moral e física. É com a energia da raiva que nos impomos diante das contrariedades. É com ela que evitamos a invasão de idéias ou sugestões contrárias ao nosso interesse. E é por meio dela que demonstramos toda a nossa vitalidade por intermédio do uso da força física.

  Ao brigarmos, para defender nossos interesses, pensamentos ou sentimentos, fazemos uso dessa energia para a destruição daquilo que sentimos como ameaça. Muitas vezes essas forças são verdadeiras alavancas para conquistas e crescimentos internos, mas, outras vezes, são verdadeiras estradas tortuosas que oprimem os instintos básicos humanos, agregando tensões a nossa imagem como frustrações e mágoas acumuladas.


  Em minha rotina profissional, encontro diariamente pessoas com problemas na coluna cervical e ombros, oriundas do mau funcionamento do fígado. Suas correlações negativas, tanto neurovegetativas quanto neuromusculares, com a região cervical, ombros e tendões, frequentemente são fruto do acúmulo do estresse diário, conflitos pessoais e alimentação inadequada. As alterações de humor interferem diretamente na função metabólica do fígado. As dificuldades de encarar serenamente uma situação difícil, sem dramatizar os fatos, deixando as coisas mais leves e fáceis de serem digeridas, tornaram-se quase uma utopia mundial.

 Esta semana, entrou em cartaz nos cinemas nacionais um filme chamado: “Quero matar meu chefe”, isso expressa exatamente nossas inabilidades de relacionamentos interpessoais e caracteriza uma enorme hiperatividade deste órgão. A raiva surge, com muita freqüência, quando esperamos que a vida e as pessoas correspondam ao que idealizamos. Quando isso não ocorre, esta raiva acumulada transformar-se-á em frustração.

 As causas da frustração tanto podem ser as ausências de coisas materiais, que ambicionamos possuir, como a presença de um obstáculo exterior para que concretizemos nossos desejos. Porém, algumas vezes vivenciamos uma sensação de proibição interior gerada por causas psíquicas que derivam de conflitos vivenciados na infância. Estas causas determinam frustrações mais profundas que, para serem vencidas, exigem um trabalho de interiorização e investigação a ser feito através de uma terapia psicológica, para determinar com precisão a sua origem.

 Recordo de um atendimento realizado, no qual o paciente apresentava intensas dores no ombro direito, especificamente no manguito rotador, que é um grupo muscular formado para estabilizar os movimentos do braço. Este paciente apresentava uma enorme hiperatividade no sistema hepato-biliar, já retratado em seu hemograma, com variações nas enzimas hepáticas e uma instabilidade articular no ombro direito. Seus exames de imagens apresentavam varias desmineralizações ósseas na coluna cervical e lombar. Seu estado de humor era péssimo, estava muito desanimado com sua colocação profissional e colocava suas falta de perspectivas como culpa de seus superiores e do sistema político social. Seus tratamentos de fisioterapia e antiinflamatórios apenas aliviavam momentaneamente suas dores, que estavam piorando progressivamente com o decorrer dos meses.

 Seu tratamento, foi, basicamente, dividido em 4 frentes de conduta: estabilizar seu ombro; modular suas dores; modificar seus hábitos alimentares; e conscientizar suas emoções. Durante o tratamento, o paciente, além de fazer uso de remédios homeopáticos e correções articulares manipulativas, passou a tomar ciência de que a raiva surge com muita freqüência independente da nossa vontade consciente. Ela é resultante da agressividade não expressa e nascem em nós com a função de destruir os bloqueios que impedem os impulsos agressivos mantenedores da integridade. Como temos por hábito reagir com agressividade às contrariedades, passamos a odiar tudo que contraria uma determinada ordem preestabelecida. Quando este sentimento não é expresso, passamos apenas a reclamar da situação. A reclamação é a manifestação auto-destrutiva da raiva reprimida, que contamina o ambiente, pois estamos gerando uma atmosfera pessimista e negativa.

 A atitude queixosa que o paciente demonstrava pela suas expectativas frustradas, caracterizava um mau uso da energia do fígado e os adoecimentos bioquímicos viscerais.

 Por isso, o fígado é considerado, tanto no oriente quanto no ocidente, como o órgão de choque do ser humano. Nossas expectativas e a velocidade que o planeta se encontra facilmente entram em constante rota de colisão. A resistência ao novo, gerando bloqueio do fluxo natural de atuação na vida, facilmente eleva as estatísticas de adoecimento deste órgão no planeta. Também as informações sem fronteiras, partidas de todas as mídias, que invadem nossas mentes, trazendo turbilhões de emoções sobre crises econômicas, guerras e conflitos, dão um trabalho incomensurável ao filtro que é o fígado, para tentar diluir, ao máximo possível, nossas imaginações desanimadoras.


 Assim, para aliviar os males do fígado, lembre-se de manifestar suas emoções certas nas horas certas e, se não for possível, converse com alguém a respeito do seu problema. Permita-se errar sem se colocar no papel de vítima, não alimente sua culpa e construa um ciclo de verdadeiras amizades durante sua vida, pois sempre precisaremos destas pessoas para desabafar nossos problemas.


"Uma breve raiva pode ser útil, mas, toda mágoa é prejudicial, pois o ressentido nunca é livre mentalmente."

2 comentários:

  1. Abri seu blog somente para conhecer e me deparei com este testo maravilhoso.
    Obrigada!!!Curitiba-PR

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  2. Excelente texto!!!

    Evelin Góes

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